Educação

sábado, 26 de novembro de 2011

Breve relato da historia de educação de surdos


UM BREVE PASSEIO PELAS RAÍZES DA HISTÓRIA DE EDUCAÇÃO DE SURDOS

A história comum dos Surdos é uma história que enfatiza a caridade, o sacrifício e a dedicação necessários para vencer “grandes adversidades”.
Nídia Limeira de Sá

Para refletirmos as fundamentações da educação de surdos atual, não há nada melhor do que fazer um breve passeio pelas raízes da história de surdos.

Conhecer a história de surdos não nos proporciona apenas para adicionarmos conhecimentos, mas também para refletirmos e questionarmos diversos acontecimentos relacionados com a educação em várias épocas, por exemplo, por que atualmente apesar de se ter uma política de inclusão, o sujeito surdo continua excluído?

A história da educação de surdos não é uma história difícil de ser analisada e compreendida, ela evolui continuamente apesar de vários impactos marcantes, no entanto, vivemos momentos históricos caracterizados por mudanças, turbulências e crises, mas também de surgimento de
oportunidades.

Como vemos pelo título do texto ’Um breve passeio pelas raízes da história de educação de surdos’. 

Porque raízes?

É pelas raízes numa história que surge revelações trazendo à luz as discussões educacionais das diferentes metodologias, pode-se observar que a raiz central das disputas sempre esteve ligada a respeito da língua, ou seja, se os sujeitos surdos deveriam desenvolver a aprendizagem através da língua de sinais ou da língua oral?

O interessante é que estas decisões sobre a educação de surdos sempre foram determinadas por sujeitos ouvintes que se auto conferem poder para a tomada dessa decisão.

Antes de surgirem estas discussões sobre a educação, os sujeitos surdos eram rejeitados pela sociedade e posteriormente eram isolados nos asilos para que pudessem ser protegidos, pois não se acreditava que pudessem ter uma educação em função da sua ‘anormalidade’, ou seja aquela conduta marcada pela intolerância obscura na visão negativa sobre os surdos, viam-nos como ‘anormais’ ou ‘doentes’

Muitos anos depois os sujeitos surdos passam a ser vistos como cidadãos com direitos e deveres de participação na sociedade, mas sob uma visão de assistencial excluída.

Naquela época, não tinham escolas para os sujeitos surdos. Com esta preocupação educacional de sujeitos surdos fizeram surgir numerosos professores que desenvolveram seus trabalhos com os sujeitos surdos e de
diferentes métodos de ensino.

O grande impacto que mais marcou na história de surdos no Congresso de Milão no ano de 1880 foi à decisão adotada pelos educadores de surdos ouvintistas que, posteriormente discutiremos e refletiremos mais a respeito nocapitulo a seguir.

CONCEITO
ouvintismo: segundo Skliar, “é um conjunto de representações dos ouvintes, a partir do qual o surdo está obrigado a olhar-se e narrar-se como se fosse ouvinte”.(1998, p 15).

Por exemplo: houve avanços na visão clínica, que faziam das escolas dos surdos espaços de reabilitação de fala e treinamento auditivo preocupando-se apenas em ‘curar’ os surdos que eram vistos como ‘deficientes’ e não em educar.

CONCEITO
Visão Clínica: nesta visão a escola de surdos só se preocupa com as atividades da área de saúde, vêem os sujeitos surdos como pacientes ou ‘doentes nas orelhas’ que necessitam serem tratados a todo custo por exemplo os exercícios terapêuticas de treinamento auditivos e os exercícios de preparação dos órgãos fonador, que fazem parte do trabalho do professor de surdos quando atua na abordagem oralista.

Nesta visão clinica geralmente categorizam os sujeitos surdos através de graus de surdez e não pelas suas identidades culturais.

Para o povo surdo deve ter sido difícil as suas vivências durante a antiguidade devidas ás injustiças sofridas e suportadas, no entanto o quase silencio sobre o que se diz com a reverência sobre sujeitos surdos é na verdade um sentido revelador, a forma parcial dos registros dos vários pesquisadores mostra-nos a preocupação deles em nos apresentar a história de surdos uma visão de que focaliza, na maior parte em esforços de fazer desujeitos surdos como modelos de sujeitos ouvintes ao oferecer ‘curas’ para as suas ‘audições’ danificadas.

CONCEITO

Povo Surdo: “O conjunto de sujeitos surdos que não habitam no mesmo local, mas que estão ligados por uma origem, tais como a cultura surda, costumes e interesses semelhantes, histórias e tradições comuns e
qualquer outro laço”.(Strobel, 2006, p.8).

Uma breve visão através da história de educação de surdos possibilitanos uma reflexão de como o sujeito surdo foi tratado e educado através dos tempos e permite-nos compreender atitudes atuais dos profissionais da saúde e da educação, causadores de estereótipos que permeiam as diferentes representações na educação de surdos.

As maiorias dos pesquisadores discretamente se limitaram nos registros nos quais os sujeitos surdos eram vistos como seres ‘deficientes’, conforme a definição de ‘ouvintismo’, assim como pronuncia a pesquisadora surda Perlin (2004) “As narrativas surdas constantes à luz do dia estão cheias de exclusão, de opressão, de estereótipos” (p.80)

CONCEITO
Estereótipo: opinião preconcebida, difundida entre os elementos de uma coletividade.(http://www.priberam.pt/dlpo/dlpo.aspx)acessado:28/04/2006

Nós não podemos deixar de reconhecer que a história do povo surdo mostra que por muitos séculos de existência, a pedagogia, as políticas e muitos  outros aspectos próprios do povo surdo têm sido organizados geralmente no ponto de vista dos sujeitos ouvintes e não dos sujeitos surdos que, quase sempre, são incógnitos como profissionais que poderiam contribuir com suas competências essenciais e de sua diferença do Ser Surdo.

CONCEITO
Ser Surdo: (...) olhar a identidade surda dentro dos componentes que constituem as identidades essenciais com as quais se agenciam as dinâmicas de poder. É uma experiência na convivência do ser na diferença (Perlin e Miranda 2003, p.217)

A história que surgiu segundo sujeitos ouvintes elogiando professores ouvintes pela iniciativa de trabalhos com os surdos, pela tecnologia oralistas, cadê a história das associações de surdos? De professores surdos? De sujeitos surdos sucedidos? De pedagogia surda? A historia cultural de surdos quase nunca lhes é contada, visto que tal fato seria um passo importante para a legitimação do modelo cultural do ‘Ser Surdo’, cita Wrigley:
Pintar psicohistorias de grandes homens lutando para obter um
lugar na historia das civilizações dos que ouvem tem pouco ou
nada a ver com representar as circunstâncias históricas das
pessoas Surdas vivendo à margem daquelas sociedades que
ouvem. (1996, p.38)

REFLEXÃO

Em síntese, a história dos Surdos, contada pelos não-Surdos, é mais ou menos assim: primeiramente os Surdos foram “descobertos” pelos ouvintes, depois eles foram isolados da sociedade para serem “educados” e afinal conseguirem ser como os ouvintes; quando não mais se pôde isolá-los, porque eles começaram a formar grupos que se fortaleciam, tentou-se dispersá-los, para que não criassem guetos. ( SÁ, 2004, p.3)

PARA LEITURAS COMPLEMENTARES SUGERIMOS:

- SKLIAR, Carlos, Educação & exclusão: abordagens sócioantropológicas em educação especial. Porto Alegre: Editora Mediação,1997

- SÁ, Nídia Regina Limeira de, CulturaPoder e Educação de Surdos.
Manaus: INEP, 2002.

Nenhum comentário:

Postar um comentário