Educação

terça-feira, 23 de agosto de 2011


TEXTO 1 - USO EXCLUSIVO EM SALA DE AULA

KENSKI, Vani Moreira. Tecnologias e ensino presencial e a distância. 2.ed.São Paulo: Papirus, 2003. p. 17 - 27.

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O QUE SÃO TECNOLOGIAS?
COMO CONVIVEMOS COM AS TECNOLOGIAS?[1]

E comum ouvimos dizer que "na atualidade, as tecnologias invadem nosso cotidiano". Alguns autores contemporâneos falam mesmo que estamos vivendo em plena "sociedade tecnológica". O que tenho observado é que essas expressões ecoam no pensamento popular de maneira perturbadora. Aguçam a imaginação. As pessoas começam a pensar nos espaços apresentados em romances e filmes de ficção científica que exploram a oposição entre nossa natureza humana e a “máquina”, forma concreta com que a tecnologia é popularmente reconhecida.
Essa visão redutora sobre o conceito de tecnologia como algo negativo, ameaçador e perigoso deixa aflorar um sentimento de medo. As pessoas se assustam com a possibilidade de que se tornem realidade as tramas ficcionais sobre o domínio do homem e da Terra pelas “novas e inteligentes tecnologias” - nossa civilização dominada por rôbos e outros equipamentos sofisticados, dotados de um alto grau de inteligência, em muito superior ao do “homem comum”".
“Tecnologia”, no entanto, não significa exatamente isso. Ao contrário, ela está em todo lugar, já faz parte de nossas vidas. Nossas atividades cotidianas mais comuns - como domir, comer, trabalhar, ler, conversar, deslocarmo-nos para diferentes lugares e divertimo-nos - são possíveis graças as tecnologias a que temos acesso. As tecnologias estão tão próximas e presentes, que nem percebemos mais que não são coisas naturais. Tecnologias que resultaram por exemplo, em talheres, pratos, panelas, fogões, fornos, geladeiras, alimentos industrializados e muitos outros produtos, equipamentos e processos que foram planejados e construídos para podermos realizar a simples e fundamental tarefa que garante nossa sobrevivêcia:  a alimentação.
Da mesma forma, para todas as demais atividades que realizamos, precisamos de produtos e equipamentos resultantes de estudos, planejamentos e construções específicas, na busca de melhores formas de viver. Ao conjunto de conhecimentos e princípios científicos que se aplicam ao planejamento, à construção e à ulilização de um equipamento em um determinado tipo de atividade nós chamamos de "tecnologia". Para construírem qualquer equipamento - seja uma caneta esferográfica ou um computador –, os homens precisam pesquisar, planejar e criar tecnologias.
Nas atividades cotidianas lidamos com vários tipos de tecnologia. Às maneiras, aos jeitos ou as habilidades especiais de lidar com cada tipo de tecnologia. para executar ou fazer algo, nós chamamos de técnicas. Algumas dessas técnicas são muito simples e de fácil aprendizado: são transmitidas de geração em geração e se incorporam aos costumes e hábitos sociais de um detenninado grupo de pessoas. As técnicas de preparar determinados alimentos, por exemplo, variam muito entre os povos e identificam os hábitos culinários de uma determinada cultura.
Existem tecnologias que exigem técnicas mais elaboradas representadas por habilidades e conhecimentos específicos e complexos. Pilotar um avião a jato, por exemplo, requer conhecimentos e treinamentos especializados. Segundo o Dicionário de filosofia de Nicola Abbagnano (1982), a tecnologia é “o estudo dos processos técnicos de um determinado ramo de produção industrial ou de mais ramos" (p. 906). Já a técnica, no mesmo dicionário,
( ...) compreende todo conjunto de regras aptas a dirigir eficazmente uma atividade qualquer. A técnica, neste sentido, não se distingue nem da arte nem da ciência nem de qualquer processo ou operação para conseguir um efeito qualquer, e o seu campo estende-se tanto quanto o das atividades humanas. (Idem, ibidem, p. 904)

Muitos dos equipamentos e produtos que utilizamos em nosso cotidiano não são notados como tecnologias. Alguns invadem nosso corpo, como próteses, alimentos e medicamentos. Óculos, dentaduras, comidas e bebidas induslrializadas, vitaminas e outros tipos de medicamentos são produtos resultantes de sofisticadas tecnologias.
Como podemos deduzir, dificilmente nossa maneira atual de viver seria possível sem as tecnologias. Elas integram nosso cotidiano e já não sabemos, viver sem fazer uso delas. Por outro lado, acostumamo-nos tanto com uma série enorme de produtos e equipamentos tecnológicos que os achamos quase naturais. Nem pensamos o quanto foi preciso de estudo, criação e construção para que chegassem em nossas mãos.
Tudo o que utilizamos em nossa  vida diária, pessoal e profissional – utensílios, livros, giz e apagador, papel, canetas, lápis, sabonetes, talheres... – são formas diferenciadas de ferramentas tecnológicas. Quando falamos da maneira como ulilizamos cada ferramenta para realizar determinada ação, referimo-nos à técnica. A tecnologia é o conjunto de tudo isso: as ferramentas e as técnicas que correspondem aos usos que lhes destinamos, em cada época.

A cada época uma tecnologia

É muito difícil aceitar que apenas o atual momento em que vivemos possa ser chamado de “era tecnológica”. Na verdade, desde o início da civilização, todas as eras correspondem ao predomínio de um determinado tipo de tecnologia. Todas as eras foram, portanto, cada uma à sua maneira, “eras tecnológicas”. Assim tivemos a Idade da Pedra, do Bronze... até chegamos ao momento tecnológico atual.
Na perspectiva de um renomado filósofo francês. Gilbert de Simolldon (1969). o homem iniciou seu processo de humanização, ou seja, a diferenciação de seus comportamentos em relação aos dos demais animais, a partir do momento em que utilizou os recursos existentes na natureza em benefício próprio. Pedras, ossos, galhos e troncos de árvores foram transformados em ferramentas pelos nossos ancestrais pré-históricos. Com esses materiais, procuravam superar suas fragilidades físicas em relação às demais espécies. Contava o homem primitivo com duas grandes ferramentas naturais e distintas das demais espécies: o cérebro e a mão criadora (Chauchard 1972). Frágil em relação aos demais animais, sem condições de se defender dos fenômenos da natureza – a chuva, o frio, a neve... –, o homem precisava de equipamentos que ampliassem suas competências. Não podia garantir sua sobrevivência e sua superioridade apenas pela conjugação das possibilidades do seu raciocínio com sua habilidade manual. A utilização dos recursos naturais para atingir fins específicos ligados a sobrevivência da espécie foi a maneira inteligente que o homem encontrou para não desaparecer.
O homem primitivo contava também com seu caráter natural de agregação social para superar as dificuldades e os desafios cIimáticos, de alimentação e de ataque de outros animais. Através do tempo esses grupos foram evoluindo socialmente e aperfeiçoando suas ferramentas e seus utensílios. Grupos sociais que criaram culturas específicas e diferenciadas, formadas por conhecimentos, maneiras peculiares e técnicas particulares de fazer as coisas. Essas culturas foram se consolidando em costumes, crenças e hábitos sociais, transmitidos de geração em geração.
A evolução social do homem confunde-se com as tecnologias desenvolvidas e empregadas em cada época. Diferentes épocas da história da humanidade são historicamente reconhecidas, pelo avanço tecnológico correspondente. As idades da pedra, do ferro e do ouro, por exemplo, correspondem ao momento histórico-social em que foram criadas "novas tecnologias" para o aproveitamento desses recursos da natureza de forma a garantir melhor qualidade de vida. O avanço científico da humanidade amplia o conhecimento sobre esses recursos e cria permanentemente “novas tecnologias”, cada vez mais sofisticadas.
A evolução tecnológica não se restringe apenas aos novos usos de determinados equipamentos e produtos. Ela altera comportamentos. A ampliação e a banalização do uso de determinada tecnologia impõem-se à cultura existente e transformam não apenas o comportamento individual, mas o de todo o grupo social. A descoberta da roda, por exemplo, transformou radicalmente as formas de deslocamento entre os grupos.
A economia, a política e a divisão social do trabalho refletem os usos que os homens fazem das tecnologias que estão na base do sistema produtivo, em diferentes épocas. O homem transita culturalmente mediado pelas tecnologias que Ihe são contemporâneas. Elas transformam suas maneiras de pensar, sentir, agir. Mudam também suas formas de se comunicar e de adquirir conhecimentos.

As tecnologias não são apenas feitas de produtos e equipamentos

Existem outros tipos de tecnologias que vão além dos equipamentos. Em muitos casos, alguns espaços ou produtos são utilizados como suportes, para que as ações ocorram. Um exemplo: as chamadas “tecnologias da inteligência” (Levy 1993), construções internalizadas nos espaços da memória das pessoas e que foram criadas pelos homens para avançar no conhecimento e aprender mais. A linguagem oral, escrita e a linguagem digital (dos compuladores) são exemplos paradigmáticos desse tipo de tecnologia.
Articuladas às tecnologias da inteligência nós temos as “tecnologias de comunicação e informação” que, por meio de seus suportes (mídias[2], como o jornal, o rádio, a televisão...). realizam o acesso, a veiculação das informações e todas as demais formas de ação comunicativa, em todo o mundo.
Uma das caracteristicas dessas novas tecnologias de informação e comunicação é que todas elas não se limitam aos seus suportes, ou seja, como Reeves e Nass (1996. p. 251) consideram, televisores, computadores e todos os novos suportes midiáticos são mais do que ferramentas". Em um exaustivo estudo sobre o comportamento das pessoas em relação às mídias, esses dois pesquisadores observaram que elas tratam seus televisores (e computadores) como pessoas ou lugares. Televisores e computadores participam ativamente de nosso mundo natural e social, dizem os autores.
Os levantamenlos feitos por Reeves e Nass com pessoas de diferentes idades. culturas, níveis educacionais e graus de experiência no uso das tecnologias mostraram não haver diferenças significativas nas maneiras amáveis com que elas tratam essas tecnologias. O computador pessoal "não é tratado de forma radicamente diferente da TV" (Reeves e Nass 1996, p. 252), independentemente do tamanho, da capacidade, da idade ou do grau de sofisticação do equipamento. A humanização desses aparelhos é fruto da incorporação dos conteúdos midíaticos (sons, imagens, textos...) veiculados em forma de informações e comunicações aos seus atributos (de máquina).
A pesquisa que fizeram revelou que as pessoas tratam diferentemente as imagens com vozes masculinas ou femininas, e que a apresentação em close de um rosto, tomando toda a tela da televisão, pode invadir o espaço físico da pessoa e causar transtornos psíquicos, inclusive. As mídias podem despertar respostas emocionais (riso, lágrimas, choro...). exigir atenção, intimidar, influenciar a memória e mudar o conceito do que é natural, dizem esses autores.
Essa interação entre o conteúdo veiculado pelas tecnologias midiáticas e as “tecnologias da inteligência” também é observada por Derrick Kerckhove (1997, p.38) que nos diz que a “TV fala ao corpo, não à mente”. O corpo reage às imagens, aos movimentos e às informações que aparecem na tela. É impossível acompanhar racionalmente a velocidade do que é ali apresentado, mas há uma interação imediata com o nosso espaço físicocorporal, nosso sistema nervoso e nossas emoções. "Perceber a cuItura televisiva implica conhecer a razão e a forma como a televisão nos fascina para além do nosso consciente", diz Kerckhove (op. cit., p. 39).
As mídias há muito tempo abandonaram suas características de mero suporte tecnológico e criaram suas próprias lógicas, suas linguagens e maneiras particulares de comunicar-se com as capacidades perceptivas,      emocionais cognitivas, intuitivas e comunicativas das pessoas.
Quando estamos envolvidos com o enredo de um filme de terror, por exemplo, custamos a nos lembrar de que é apenas um filme. Nossa primeira reação é a de nos assustarmos. Só depois utilizamos nossa capacidade de raciocínio para nos acalmarmos e raciocinarmos: “Isto é apenas um filme...” (Reeves e Nass 1996, p.253). Esse é um dos exemplos, apresentados por Reeves e Nass, para demonstrar que nossa primeira forma de comprender o que é veiculado na televisão é emocional. A análise mais racional da situação vem depois.
Kerckhove (1997, p. 40) considera que a velocidade apresentada nas mudanças rápidas das imagens na televisão impede os necessários distanciamento – intervalo entre o efeito do estímulo e a seIeção reflexiva da relação mais adequada – e tempo para processar a informação recebida no nosso consciente. A televisão não deixa intervalos para refletir sobre o que vemos. Como diz Morris Wolfe (apud Kerckhove op. cit., p. 42), a televisão precisa fazer “zap no zapeador”, para impedir que ele adormeça, mude de canal ou produza respostas cognitivas completas e imediatas ao que ela lhe oferece.
Em um processo dinâmico e veloz, as imagens são construídas em nossa mente a partir dos estímulos visuais oferecidos na tela. Ver televisão é interagir permanentemente com as imagens apresentadas na tela. Como diz Kerckhove (op. cit. p. 48), “a imagem formada não precisa necessariamente fazer sentido para nós”. O que se forma é a imagem, que irá ficar gravada em nossa lembrança, mesmo sem a compreendermos totalmente.
As novas tecnologias de informação e comunicação,[3] caracterizadas como midiáticas, são, portanto, mais do que simples suportes. Elas interferem em nosso modo de pensar, sentir, agir, de nos relacionarmos socialmente e adquirismos conhecimentos. Criam uma nova cultura e um novo, modelo de socidade.
Essa nova sociedade – essencialmente diferente da sociedade industrial que a antecedeu, baseada na produção e no consumo de produtos iguais, em massa – caracteriza-se pela personalização das interações com a informação e as ações comunicativas. Nesse novo momento social, “o elemento comum subjacente aos diversos aspectos de funcionamento das sociedades emergentes e o tecnoIógico” (Tortajada e Pelaez 1997. p. 252), Um “tecnoIógico” muito diferente, baseado na cultura digital.

As tecnologias de comunicação e informação invadem nosso cotidiano

Estamos vivendo um novo momento tecnológico. A ampliação das possibilidades de comunicação e de informação, por meio de equipamentos como o telefone, a televisão e o computador, altera nossa forma de viver e de aprender na atualidade.
Antigamente as pessoas saíam às ruas ou ficavam à janela de suas casas para se informarem sobre o que estava acontecendo nas proximidades, na região e no mundo. A conversa com os vizinhos e os viajantes garantia a troca e a renovação das informações. Na atualidade, a “janela é a tela”, diz Virilio (1993. p. 62). Pela tela da televisão é possível saber de tudo o que está acontecendo em todos os cantos, desde as mais longínquas partes do mundo até nossas redondezas. Da nossa sala, por meio da televisão ou do computador, podemos saber a previsão do tempo e o movimento do trânsito, informamo-nos sobre as últimas notícias, músicas, os filmes e livros que fazem sucesso e muito mais. Podemos interagir com pessoas e instituições de todo o mundo.
O que é veiculado pelos programas televisivos passou a orientar nossas vidas. Pessoas de todas as idades, condições econômicas e de todos os níveis intelectuais começaram a viver “Iigadas na televisão”. Algumas pessoas chegaram no limite: trocaram de lado. Assumiram em suas vidas valores, hábitos e comportamentos copiados dos personagens da televisão. Viraram também “personagens”. Não conseguem mais viver distantes da televisão e assimilam acriticamente tudo o que é ali veiculado.
A televisão, por sua vez, aproxima-se cada vez mais da realidade cotidiana. O sucesso de programas (reality shows) como “Casa dos Artistas” e “Big Brother Brasil” mostra o quanto a vivência cotidiana das pessoas alimenta o “show” oferecido pela mídia. A ficção confunde-se com a realidade produzida no espaço artificial dos cenários televisivos. Artistas e pessoas comuns vivem um cotidiano totalmente, documentado e exibido e que desperta a curiosidade geral do grande público. A exibição da performance das pessoas em cenas de intimidade cotidiana explicita (dormir, comer, tomar banho, namorar...) diante da tela confunde os pensamentos, os sentimentos, os julgamentos e as ações dos telespectadores.
Da mesma forma, todas as formas de interação proporcionadas pelos computadores – principalmente quando ligados a Internet – geram transformações explícitas no comportamento dos seus usuários.
As mídias, como tecnologias de comunicação e de informação, ivadem o cotidiano das pessoas e passam a fazer parte dele. Para seus frequentes usuários, não são mais vistas como tecnologias, mas como complementos, como companhias, como continuação de seu espaço de vida.
Por meio do que é transmitido pela televisão, ou acessado pelo computador, as pessoas se comunicam, adquirem informações e transformam seus comportamentos. Tornam-se “teledependentes” ou “webdependentes” –consumidoras ativas, permanentes e acríticas do universo midiático.
Esse e um dos grandes desafios para a ação da escola na atualidade. Viabilizar-se como espaço crítico em relação ao uso e à apropriação dessas tecnologias de comunicação e informação. Reconhecer sua importâcia e sua interferência no modo de ser e de agir das pessoas e na própria maneira de se comportarem diante de seu grupo social, como cidadãs. Apropriamo-nos, aqui, das palavras de Umberto Eco (1996) quando diz que “nós precisamos de uma forma nova de competência crítica, uma arte ainda desconhecida de seleção e decodificação da informação, em resumo uma sabedoria nova”. Desenvolver a consciência crítica e fortalecer a identidade das pessoas e dos grupos são desafios atuais a ser enfrentados por todos nós professores.

Desafios das tecnologias na sociedade atual

As novas tecnologias da informação e da comunicação (NTICs) articulam várias formas eletronicas de armazenamento, tratamento e difusão da informação. Tornam-se “midiáticas” após a união da informática com as telecomunicações e o audiovisual. Geram produtos que tem como algumas de suas características a possibilidade de interação comunicativa e a Iinguagem digital.
A velocidade das alterações no universo informacional cria a necessidade de permanente atualização do homem para acompanhar essas mudanças.
As tecnologias da comunicação evoluem sem cessar e com muita rapidez. A todo instante novos produtos diferenciados e sofisticados – telefones celulares, fax. Softwares, vídeos, computador multimídia, Internet, televisão interativa, realidade virtual, videogames – são criados. Esses produtos. no entanto, não são acessíveis a todas as pessoas, pelos seus altos preços e necessidades de conhecimentos específicos para sua utilização.
A democratização do acesso a esses produtos tecnológicos – e a consequente possibilidade de utilizá-Ios para a obtenção de informações – e um grande desafio para a sociedade atuaI e demanda esforços e mudanças nas esferas econômicas e educacionais de forma ampla.
Para que todos possam ter informações que Ihes garantam a utilização confortável das novas tecnologias é preciso um grande esforço educacional geral. Como as tecnologias estão permanentemente em mudança, o estado permanentemente de aprendizagem é consequência natural do momento social e tecnológico que vivemos. O atual estágio dessa “sociedade tecnológica”, baseado nas possibilidades de articulação entre diferentes mídias para acesso a informação e comunicação, caracteriza-se também pela articulação global do mercado econômico mundial. Essas mudanças refletem, por sua vez, na organização e na natureza do trabalho, era produção e no consumo de bens.

Educação e novas tecnologias. Desafios e perspectivas

As alterações sociais decorrentes da banalização do uso e do acesso das tecnologias eletrônicas de comunicação e informação atingem todas as instituições e todos os espaços sociais. Na era da informação, comportamentos, práticas, informações e saberes se alteram com extrema velocidade. Um saber ampliado e mutante caracteriza o atual estágio do conhecimento na atualidade. Essas alterações refletem-se sobre as tradicionais formas de pensar e fazer eduação. Abrir-se para novas educações – resultantes de mudanças estruturais nas formas de ensinar e aprender possibilidades pela atualidade tecnológica – é o desafio a ser assumido por toda a sociedade.
REFERÊNCIA
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. 2ª ed. São Paulo: Mestre Jou, 1982.
SIMONDON, G. Du mode d’ existence des objects techniques. Paris: Aubier-Montaine, 1969.
CHAUCHARD, P. El cerebro y la mano creadora. Madri: nancea, 1972.
LEVY, Pierre. As Tecnologias da inteligência. O futuro do pensamento na era da informática. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1993.
REEVES, B. e NASS, C.  The media equation. How people treat computers, television and new media like real people and places. Stanford: CLSI, 1996.
KERCKHOVE, Derrick. A pele da cultura. Uma investigação sobre a nova realidade eletrônica. Lisboa: Relógio D’Água, 1997.
TORTAJADA, J. e PELAEZ, A. (orgs.) Ciência, tecnologia y sociedad. Madri: Sistema, 1997.
VIRILIO, Paul. O espaço crítico. Rio de janeiro: Ed. 34, 1993.
ECCO, Umberto. “From Internet to Gutemberg” Parte VI. Palestra proferida na Italian Academy for Advanced Studies in America, em 12 de novembro [ http://www.italynet.com/columbia.htm] . Busca em 3/2002.










[1] Partes deste capítulo foram escritas e publicadas originalmente no módulo 1 do “TV na escola e os desafios de hoje:Projeto de curso de extensão para professores do ensino fundamental da rede pública – UniRede e Seed/MEC”. Brasília: Ed. da UnB, 2000.

[2] Utilizarei neste livro a palavra mídia, forma com que popularmente são designados no Brasil os meios de comunicação. Ao optar pelo uso dessa expressão, não ignoro sua origem linguística (do latim, medium – meio e media = meios) e conceitual (na língua inglesa, mass media, para designar os meios de comunicação de/em massa).
[3] Estou considerando como “novas tecnologias de comunicação e informação” as mais utilizadas pelas pessoas e que são utilizadas no ensino formal, como televisão, computadores e seus acessórios multimidiáticos e a Internet.

Reflexões sobre Lista de Discussão



Listas de discussão
Para entender o que é uma lista de discussão, vamos imaginar que você e mais quinze
dos seus colegas professores resolvam debater um determinado tema. Vocês poderiam todos informar-se sobre os endereços uns dos outros (um de vocês poderia até mandar a lista de endereços por e-mail para todos ‘os outros’) e quando alguém quisesse comunicar algo precisaria apenas enviar um e-mail para os outros quatorze. Sem problemas, não é mesmo!
Mas imagine agora que você, diretor de uma escola, quer mandar um e-mail para a lista
de 1.367 pais de alunos da escola, podendo eles também responder este e-mail em retorno para todos os pais, gerando, assim, um debate entre todos eles. Nossa! Agora já  ficou mais complicado. A solução para o caso é criar uma lista de discussão, que consiste em criar um único endereço eletrônico, como por exemplo:
pais_da_escola_guilherminaSilva@dominio.do.servidor.de.listas, que terá a ele associado todos os endereços dos pais da escola.
A existência de um e-mail específico através do qual todos se comunicam é a chave do serviço de listas de discussão: desta forma, transformamos uma extensa lista de endereços de participantes, que altera a todo momento, em um único e imutável endereço da lista de discussão. (FILIPPO; SZTAJNBERG, 1996, p. 155).
Apesar de estarem construídas sobre o serviço de e-mail, as listas de discussão são um serviço específico, diferente do serviço de e-mail. Este requer um servidor que seja configurado para executá-lo, sendo necessário um programa de gerenciamento de listas.
A máquina que tem este programa instalado funcionará como um refletor (porque reflete mensagens para todos) e passará a ser conhecida como sendo um servidor de listas. (FILIPPO; SZTAJNBERG, 1996, p. 156).
As grandes empresas e corporações mantêm seus próprios servidores de listas. Para
os usuários em geral, a alternativa é usar algum servidor gratuito, que se denominam servidores para grupos. Alguns dos mais conhecidos são:
http://www.grupos.com.br/
http://br.groups.yahoo.com/

Questões de segurança no uso do e-mail e de listas de discussão

Voltando à questão do e-mail, há alguns aspectos de segurança específicos desta ferramenta que devemos destacar. Há uma questão sempre presente, mesmo sabendo que é crime a violação da correspondência alheia, como saber que, estando nossa mensagem digital viajando por aí na rede Internet, não será ela interceptada e lida. Afinal, não temos nenhum lacre que informe se a mensagem já foi aberta ou não. Não há mesmo como saber. A questão é confiar nos administradores dos servidores da rede.
A Internet sempre teve na segurança um ponto fraco. (FILIPPO; SZTAJNBERG, 1996, p. 157).
As pesquisas em segurança têm avançado muito. Quanto a esta questão de fundo, não
há muito a fazer. Há, contudo, outras questões para as quais podemos tomar precauções
efetivas. Elas são todas referentes ao recebimento dos Spams. Mas o que é um SPAM?
São aquelas mensagens que recebemos sem desejar. Essas mensagens são usadas para enviar propagandas, vírus ou, mais grave ainda, para enviar pornografia, ou mesmo para lesar-nos tentando roubar nossos dados. É o que chamamos de lixo eletrônico.

Saiba Mais
Há algumas hipóteses acerca da origem do termo spam. A mais popular é
que o termo seja a abreviatura de SPiced hAM, um presunto enlatado muito
comum nos EUA e Inglaterra. Este tipo de comida era considerado de baixa
qualidade, desta forma, na década de 70, um grupo de comediantes chamado
Monty Python fez uma esquete satirizando a duvidosa qualidade do
presunto. A esquete se passa em um restaurante, que serve grandes quantidades
de SPAM em todos os pratos, mesmo contra a vontade dos fregueses.
A partir de então, spam virou sinônimo de tudo que é enviado em grande
quantidade e sem o consentimento do destinatário.” (CAMARGO, 2008).
Esse lixo é produzido porque muitas pessoas utilizam da maior vantagem do
e-mail, o de mandar uma mesma mensagem para muitas pessoas. Há até
um comércio na Internet de grandes listas de e-mails válidos, que algumas
pessoas conseguem juntar. “Este tipo de mensagem causa muitos prejuízos
e algumas fontes chegam a mencionar cifras bilionárias ao contabilizar os
gastos com esta praga eletrônica.” (CAMARGO, 2008).

Para se proteger destes golpes, veja alguns cuidados adaptados daqueles indicados
por Camargo (2008):
Nunca responda spams, se você fizer isso estará apenas confirmando a existência
do seu e-mail, desta forma será alvo certo de lixo eletrônico.
Tome cuidado principalmente com mensagens enviadas por:
- agências governamentais: “Seu CPF está bloqueado, clique aqui para
regularizar sua situação”;
- bancos: “Estamos procedendo um novo cadastramento, clique aqui e
acesse a página para entrada de dados”;
- serviços de proteção ao crédito: “Seu crédito está bloqueado, clique aqui
para conhecer o processo...”;
- um(a) amigo(a) ou apaixonado(a) desconhecido(a): “Fulano(a) enviou
um cartão para você, clique aqui para ler o seu cartão”; “Não me esqueci de você,
clique aqui para ver a nossa foto”.
Nunca clique aqui!, desconfie sempre. Ao clicar você estará possibilitando que algum
vírus se instale, ou que seus dados sejam fisgados. Lembre-se, agências governamentais,
ou empresas que lidam com grandes parcelas da população, têm
como regra não usar o e-mail, justamente para proteger os cidadãos deste tipo de
trapaça.
Preserve seu e-mail. Só o forneça para pessoas confiáveis.
Use “Cópia Oculta” ao enviar e-mails a muitos contatos. Esta é uma maneira de
evitar que seu e-mail circule pela rede caso seu destinatário encaminhe a mensagem
que você enviou, principalmente naqueles e-mails do tipo corrente.
Utilize os filtros antispam do seu provedor. No Gmail, há uma opção de configuração
chamada filtro, que pode ser usada para excluir imediatamente mensagens que
contenham determinadas palavras, ou que tenham sido enviadas por determinado
endereço. Vale a pena aprender a usar.
Não dê continuidade aos e-mails do tipo corrente (aqueles que você deve mandar
imediatamente para dez outros amigos), porque esses são boas fontes de captação
de listas de endereços pelos spammers (os que gostam de enviar spams).
Secretaria de Educação a Distância. Diretoria de Produção de Conteúdos e Formação em Educação a Distância. INTRODUÇÃO À EDUCAÇÃO DIGITAL. Guia do Cursista. Edla Maria Faust Ramos Mônica Carapeços Arriada, Leda Maria Rangearo Fiorentini. BRASÍLIA, 2009


                             Lista de discussão

Maria Helena Silveira Bonilla
FACED/UFBA – bonilla@ufba.br
Um elemento importante no processo de mutação cultural desencadeado na escola pode ser a lista de discussão. Constitui-se num ambiente onde pode-se trocar idéias e impressões a respeito do trabalho que vai sendo desenvolvido. No entanto, como a maioria dos professores não conhece esse dispositivo, não consegue usufruir das oportunidades criadas pelo ambiente. Num primeiro momento, os professores necessitam de assessoria constante para  desencadear o processo de participação. Também, somente quando estão diante da necessidade efetiva de fazer uso de uma lista para que as ações junto aos alunos possam desenvolver-se, é que os professores engajam-se verdadeiramente no processo. Isso mostra que cursos de capacitação, sem uma efetiva ação dentro da escola, sem oferecer as condições para que os professores vivenciem situações, não conseguem envolver os professores a ponto de construírem autonomia para a proposição de outras práticas (André, 1995:115). Com alguns professores é necessário acompanhar passo a passo, durante algum tempo, desde o caminho que devem percorrer para acessar a caixa de mensagens até a redação de uma mensagem. Outros não, logo após o primeiro acompanhamento, já conseguem participar ativamente da lista, analisando as informações que os alunos disponibilizam, provocando os alunos a participarem, trazendo outras questões para a discussão, auxiliando os alunos.
Com os alunos, esse processo é bem mais rápido. Na maioria dos casos, eles também não conhecem lista de discussão, mas logo compreendem o sentido e o funcionamento da mesma e são bem mais autônomos na interação. No entanto, como não usam e-mail assiduamente, procuram enquadrá-lo na lógica do chat, que é de uso mais comum. Assim, muitos não assinam os e-mails, outros utilizam a lista para comunicação mais individual. Isso gera crítica por parte de outros alunos, que dizem que na lista devem ser tratados apenas temas de estudo.
Esse é um debate que vem se processando no interior da maioria das listas de discussão. O que cabe ser discutido numa lista? A tentativa de delimitar o que pode e o que não pode circular faz parte dos mecanismos de controle que tentam se impor a todos os processos. Alguns chegam ao extremo de construir normas e regras para a utilização de uma lista de discussão.
No entanto, numa lista, os processos são fluídos, a “organização” tão requerida por alguns, vai acontecendo no próprio fluxo, na própria dinâmica de interação da comunidade. Em alguns momentos, uns vão reclamar, estarão descontentes, outros vão discordar deles; em outros momentos alteram-se os papéis, mudam os motivos da reclamação. Faz parte do fluxo. Justamente por ser dinâmica, os processos de auto-organização também são instáveis (Morin, 1998:195-206).
Outros fatores também levam à reclamação de alguns. Muitos participantes de listas de discussão apontam como pontos críticos tanto o volume de mensagens quanto o tamanho das mesmas. Essas reclamações são decorrentes da concepção de que a leitura deve ser linear, detalhada, do início ao fim. No entanto, como as listas de discussão fazem parte de um ambiente hipertextual, a compreensão da mensagem não está no fato de ser lida do início ao fim, uma vez que o que está expresso mantém uma unidade de sentido com a infinitude do que não foi expresso (Gadamer, 1997:680). A leitura das mensagens deve ser mais no estilo navegação, ou seja, uma leitura mais global, onde a partir de alguns fragmentos constrói-se uma visão do todo, uma vez que palavras, expressões, tópicos, colapsam o espaço virtual das possibilidades em um acontecimento, um “lugar” de sentido, “lugar” que vai se reconfigurando à medida que se conectam outras palavras, expressões ou tópicos. Dessa forma, algumas mensagens, aquelas que não instigam, não apresentam sentido, são excluídas, independentemente de seu tamanho.
Aos poucos, os integrantes das listas de discussão vão percebendo que o meio não é propício para a escrita de longas mensagens, que dificultam essa leitura global. Quando necessitam enviar textos mais extensos optam por mandar em arquivo anexo, ou um link para acesso direto na rede. A cultura do uso vai se constituindo, umas dinâmicas dando lugar a outras, mais de acordo com as características do meio e com o desejo dos participantes.
Como os professores estão acostumados a trabalhar de forma fragmentada, cada professor fazendo seu trabalho, fechado dentro de sua área, num primeiro momento cria-se uma certa perplexidade. Alguns professores sentem-se inseguros, com medo de não poderem, no meio da “bagunça”, isolar o seu campo de domínio, e por isso mesmo não saberem o que fazer com as informações que circulam. No entanto, à medida que a lista é dinamizada, vão sendo estabelecidos vários links, o que é importante para refletir sobre a questão da fragmentação do saber, tão próprio da escola, e das possibilidades de superação dessa prática.
O envolvimento e a participação dos integrantes numa lista de discussão é outro tema que vem sendo analisado. Quase sempre o número de participantes ativos, que se posicionam e contribuem para a dinamização das listas é muito reduzido. No entanto, o importante numa lista de discussão não é quantificarmos o número de participantes ativos, e sim abrirmos espaço para a participação, darmos oportunidade de fala a todos. É natural que num primeiro momento os participantes da lista sejam aqueles que mais falam presencialmente, e que aqueles que nunca se manifestam em sala de aula continuem calados, apenas assistindo a dinâmica desencadeada pelos demais. No entanto, essa não é necessariamente uma regra a ser seguida. Como o espaço está aberto, aquele que nunca se manifestou tem a oportunidade para o fazer, uma vez que todos sempre têm alguma coisa a dizer. E é aí que emerge o diferencial. Quando alguém que nunca se manifestou toma essa iniciativa, cabe aos demais participantes valorizar esse posicionamento, instigando para que continue.
O papel do professor também é muito importante. A lista não é o espaço onde o professor distribui informações, é o espaço onde o professor coloca questionamentos, instiga, incentiva a participação de todos. É papel do professor valorizar a participação daquele que não costuma se expor, de forma a criar nele o desejo de continuar falando. Dessa forma, o professor não interage mais só com aqueles que sempre falam, mas principalmente com aqueles que nunca falam. É então que o professor terá a oportunidade de conhecer seus alunos, saber o que pensam, como constróem conhecimento, como se relacionam. Assim, a cultura da participação, a interatividade, vai constituindo-se.
Texto apresentado no VI Colóquio sobre questões curriculares e II Colóquio Luso-brasileiro sobre questões curriculares, realizado de 16 a 19 de agosto de 2004, na UERJ